Crianças podem viver de migalhas!

Outubro 17, 2017 at 11:55 pm

Recentemente descobri que crianças podem viver de migalhas: migalhas da nossa atenção, migalhas do nosso amor, migalhas do nosso tempo, migalhas da nossa dedicação e migalhas do nosso empenho.

Estávamos numa fase extremamente ocupada e eu não sabia como iria conseguir cuidar dos meninos, dar atenção que eles merecem e resolver tudo que precisávamos fazer. Pra minha surpresa, percebi que crianças se adaptam muito bem e aprendem a viver de migalhas, das nossas sobras, do nosso resto.

Depois de 12 anos na mesma casa, iríamos nos mudar. A gente não imagina a quantidade de tranqueira que se acumula numa família de 5 até que se começa a abrir gaveta por gaveta, armário por armário, e o mais temido dos monstros, o porão (basement). Milhares de cartões, de trabalhinhos, papeizinhos e bilhetinhos das crianças. Livros e mais livros. Cds, roupas, presentes que nunca foram usados. Brinquedos e um bilhão de pecinhas de lego. Por sinal, creio seriamente que os legos tomam vida durante a noite aqui em casa e se reproduzem, igualzinho no Toy Store. Fora a mudança, que em si já era assustadora de se fazer com 3 crianças e sem  suporte da família que mora a um oceano de distância, tínhamos que reformar a casa antiga pois os novos moradores já tinham data para entrar e também reformar a casa para qual nos mudariamos. Estávamos lidando com mudança e reforma de duas casas. O Christian trabalhando normalmente, pois não podia tirar férias longas naquele momento e passando as noites quase em claro para ajudar nas reformas e mudança. E as crianças  de férias escolares, o dia inteiro em casa.  No começo, fiquei super frustrada porque nossos planos eram de ter se mudado durante o ano letivo, pois eu poderia encaixotar e organizar tudo enquanto os 2 mais velhos estavam na escola. Mas vida real é vida real e nem tudo acontece como imaginamos. Acabamos com 2 reformas e mudança para fazermos nós dois sozinhos durante as férias escolares e um período super ocupado no trabalho do meu marido.

Foi aí que a grande descoberta aconteceu: crianças não precisam do nosso melhor, elas podem viver de migalhas.

Elas se acostumam  a ouvir um “não” o tempo todo ou um “ahã” sem que prestemos atenção no que elas estão dizendo. No começo, quando dizemos que estamos ocupados, eles até tentam chamar nossa atenção ou insistir para que paremos o que estamos fazendo para brincar ou interagir com eles. Depois de alguns “não posso agora, estou ocupado” elas se habituam e começam a vir cada vez menos vezes nos interromper.

Elas se acostumam a não sentar na mesa para jantar com toda família e pegar qualquer coisa na geladeira ou no armário pra comer na frente do sofá enquanto assistem televisão.

Elas se acostumam a se distrair por horas e horas no computador ou no Ipad, em vez de ir a um parque, jogar bola ou correr com amiguinhos.

Elas se acostumam em ver os pais o tempo todo no telefone ou computador, tentando resolver algo importante ou simplesmente perdendo tempo com futilidades.

Elas se acostumam com a idéia de que adultos são muito ocupados e que tudo que temos para oferecer a elas são migalhas: migalhas do nosso tempo, migalhas da nossa atenção. Crianças se acostumam a viver com o resto. Elas se acostumam a viver com as sobras que muitas vezes damos para elas. Sobras da nossa energia, sobras do nosso tempo, sobras do nosso melhor.

E nós também nos acostumamos: nos acostumamos a dar o nosso melhor pro trabalho, para o ministério, para os amigos, para nossos hobbies ou para a casa nova e dar somente as sobras para os nossos filhos. Nos acostumamos a dar toda nossa energia para os de fora e deixar apenas o cansaço e estresse para os de dentro. Afinal eles são apenas crianças!

Mas lá no fundo do nosso coração, tem aquela coisinha chamada consciência, aquela voz suave que nos diz: é verdade, crianças se acostumam a viver de sobras, de migalhas e eles podem até sobreviver apenas dos nossos restos. Mas será que é isso que queremos? Será que queremos que eles se acostumem somente com nossas migalhas?

As mudanças e reformas passaram, a loucura acabou. Sempre aparece algo tentando nos deixar ocupados demais para dar o nosso melhor aos nossos filhos. Já sei que eles se adaptam e se acostumam a viver com as sobras, com uma mãe demasiadamente ocupada ou distraída. Mas é isso que eu quero? É isso o melhor que posso oferecer aos meus filhos?

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