O menino problemático que Deus amava.
João mudou para minha cidade temporariamente durante o Covid. Os pais são divorciados. A mãe trabalha muito em em uma grande metropole e com as aulas canceladas, ninguém podia cuidar dele e dos seus irmãos. Nessas horas, a casa da tia foi a solução. A tia, de boa vontade os recebeu, mas dizia o quanto era cansativo prestar esta ajuda. Os irmãos do João até que eram tranquilos, mas ele era um menino problema, dizia ela. Já havia sido suspenso da escola algumas vezes. Tem déficite de atenção. A mãe queria mandá-lo para casa do pai. O pai não queria ele pois não sabia como lidar com as dificuldades dele. Os avós também sentiam-se cansados.
João vinha brincar com as outras crianças da rua de vez em quando. Algumas vezes ele não vinha. No dia seguinte, explicava: “não posso sair enquanto não termino a lição. Mas é impossível para mim. Não consigo me concentrar e fazer sozinho”. Eu conseguia enxergar o sentimento de derrota nos olhos dele. A dor do fracasso. Me doia. Mas ele também tinha seu lado agitado. De vez em quando falava palavrões perto das outras crianças ou era agressivo. Algumas vezes precisei conversar com ele. Em outros momentos, era doce e cuidava com muito carinho de seus irmãos mais novos. Só sei que meu coração se encheu de misericórdia por essas crianças, especialmente o João.
Brincava com eles, convidava-os para lanchar com meus filhos e para fazer um passeio. Mas queria fazer mais…. só não sabia o que. Até que um dia, recebi a mensagem de uma amiga sobre uma Colônia de Férias para crianças de uma igreja. Minha amiga já havia participado e me disse que era uma semana muito especial para as crianças, cheias de brincadeiras, musica e ensino da Palavra. Senti algo forte no meu coração de que o João precisaria estar lá. Quando fui buscar informação, a decepção. João estava uma série acima do limite daquela Colônia e não poderia participar. Pensei em simplesmente registrá-lo com outra idade, mas orei: Senhor, se este desejo que tenho que o João participe desta Colonia de Férias é algo vindo do Senhor, oro por 2 coisas: que a diretora da Colônia permita que ele participe mesmo sabendo que ele já esta acima da série e que a mãe dele o autorize a participar. Liguei na Colônia. Expliquei que gostaria de registrar meu filho e um amigo. Mas o amigo já estava acima da idade e não poderia participar. Ela fez algumas perguntas e então me disse que não haveria problema. A primeira resposta eu já havia recebido. Sabendo que ele não seria barrado, procurei a tia e fiz o convite. Ela me disse que teria que pedir autorização para a mãe dele e me avisaria. Comecei a orar.
Já havia convidado eles para outras atividades e a mãe não havia deixado. Mas havia uma convicção no meu coração que o Senhor queria fazer algo na vida daquele menino. Um dia antes da Colonia de Ferias, começar, ela me responde que a mãe autorizou.
O João não participa de uma igreja e tem problemas de mau compartmento. Quando chegou o primeiro dia, vou levá-lo na Colônia preocupada se ele ira se sentir aceito, se ele ira achar aquilo tudo muito chato, ou se iria ser banido por falar palavrões. Mas quando vou buscá-los ao final do dia, todas minhas ansiedades vão embora. É Claro que Deus cuidou de tudo e João volta com um sorriso enorme no rosto e muito feliz. Me conta tudo que aprendeu e como a líder do seu grupo foi tão legal com ele!
Mas isto era apenas o começo…. eu não sabia, mas no dia seguinte ele completaria 13 anos. Um aniversário muito especial aqui nos EUA pois é considerado a entrada da adolescência. Ao final do dia, João me conta que quando as professoras da igreja souberam do seu aniversário, compraram bolo, chamaram-o ao altar, cataram parabéns e o abençoaram. Eu vejo que o olhar triste de rejeição que João carrecaga nos olhos já não está mais lá. Eu vejo os ombros caídos de falta de confiança um pouquinho mais erguidos cada dia. E eu choro. E eu agradeço a Deus. E o Espírito Santo começa a ministrar no meu coração que nada daquilo era coincidência. A mudança temporária daquele menino, a compaixão vinda de Deus no meu coração por ele, os momentos dele participando aqui em casa das refeições e do devocional que fazemos com nossos filhos; a Colonia de férias durante o aniversário dele de 13 anos (quando um menino vira um homem) naquela mesma semana.
E mais uma vez, eu sinto o Espírito Santo me impulsionando a orar por ele. E então eu digo: Senhor, este menino tem tantas dores e lutas, mas eu vejo como o Senhor tem o cercado com seu amor. O Senhor arquitetou milimetricamente todas as coisas para que o João tivesse um encontro contigo. E eu te peço que nesses últimos dias da Colônia de Férias, o João possa entender que o Senhor é o Pai mais amoroso que ele poderia ter, e que o Senhor transforme a vida dele nesta semana.
Cada dia que eu ia buscá-los, ele estava mais feliz e animado. No ultimo dia, quando passei em sua casa para levá-lo, ele entrou no carro com uma nota de $20 e me disse: vou levar para doar para a igreja. Eu disse a ele que ele não precisaria fazer isto, pois sei as dificuldades da família. Ele me disse que ele sabia que não precisava, mas queria. E terminou dizendo : eu quero ajudar Deus .
O ultimo dia de Colonia acabou e eu muito feliz com todas as lições que ele e meu filho aprenderam, mas com uma incognita no meu coração. Será que o João entendeu quem Jesus é? Tínhamos conversado com ele algumas vezes aqui em casa, mas ele ainda não tinha recebido a verdade de que Deus que ser seu Pai e Jesus seu Salvador.
Alguns dias se passaram até que meu filho veio e me disse: “mãe, sabia que o João veio hoje me dizer que lá na Colônia ele recebeu Jesus juntamente com um dos líderes?” Eu não sabia se chorava ou se ria! Um Deus tão grandioso ama tanto cada um de nós que Ele trabalha minuciosamente para orquestrar circunstâncias e situações para que nos acheguemos a Ele e sejamos curados, libertos, restaurados.
Escrevi tudo isto para te dizer 2 coisas:
1)Este mesmo amor que o Senhor tem pelo João, Ele tem por mim e por você. Ele nos persegue, nos cerca com seu amor. Ele não desiste das nossas vidas.
2) Esteja atenta as pessoas ao seu redor e ao mover do Espírito Santo. Quando conheci este menino, fiquei meio assustada com os modos dele. Mas o Espírito Santo me consternava a orar por ele. O Espírito Santo foi trazendo convicção no meu espírito de cada situação e me orientava em como interceder pelo João e o que fazer. Nós somos cooperadores de Deus aqui na terra. Esteja atenta aquilo que o Espírito quer falar e fazer.
Com o recomeço das aulas, o João voltou para sua cidade e família. Mas uma certeza eu tenho: que Aquele que começou a boa obra na vida do João é fiel para completá-la. Deus é um Pai perfeito, capaz de guardar cada filhinho em suas mãos.
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