Temos “terceirizado” nossos filhos?

Novembro 5, 2014 at 7:13 pm

Hoje em dia se tornou muito comum as empresas terceirizarem vários departamentos. Seja por causa do custo, seja por causa da facilidade, é muito comum o atendimento ao consumidor, por exemplo, ser terceirizado. Sou lembrada disto quando ligo para o serviço ao cliente do nosso provedor de tv a cabo. A pessoa que me atende logo vai me saudando: “Obrigado por ligar para a empresa X, em que posso ajudá-la?” Aquela pessoa leva o nome da empresa e até toma algumas decisões pela empresa, mas na verdade ela não é parte daquela empresa, pois os serviços são terceirizados e ela não tem nenhum vínculo com a empresa X, mas sim com a empresa Y, que a contratou.

E nós, será que não estamos também terceirizando nossos filhos? Explico: Eles levam o nosso sobrenome, e adoramos postar lindas fotos deles para nossos amigos comentar745886_83885662em, mas temos transferido a responsabilidade do cuidado, educação e criação deles para terceiros, seja a escola, a babá, os avós ou até a televisão.

Esses dias fui participar de uma reunião de pais na escola do meu filho. Fiquei assustada com a quantidade de expositores oferecendo serviços destinados às crianças. Não é apenas escolinha de futebol ou balé. Agora tem escolinha de lego, de xadrez, de arte, de culinária,de como fazer uma pipa e por aí vai… Antigamente, a expectativa dos pais com relação à escola era que esta ensinasse seus filho a ler, escrever, matemática e ciências. Hoje exigimos que a escola assuma a nossa responsabilidade, de educar nossos filhos, de prepará-los para a vida. Achei muito interessante um texto que li um tempo atrás, dizendo que o Ministério da Educação deveria se chamar Ministério do Ensino, pois educação se aprende em casa e não na escola.

Historicamente, e até do ponto de vista bíblico, a educação dos filhos sempre foi responsabilidade dos pais. “Ensine estas coisas com persistência a seus filhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar.” Deuteronômio 6:7. Se olharmos para este texto, vemos que a educação das crianças deve ser feita pelos pais e com persistência. Assim era antigamente: um filho crescia aprendendo do seus pais o ofício que ele executava. O Joãozinho, desde pequeno, observava seu pai trabalhar na marcenaria e ali aprendia o trabalho. E enquanto observava o papai, conversavam sobre as coisas da vida, sobre caráter, e o Joãozinho aprendia a ser homem. Claro que os tempo mudaram, a informação está disponível em uma velocidade e quantidade incriveís mas será que estas mudanças culturais nos desobrigam de assumirmos a responsabilidade pelo conteúdo da educação dos nossos filhos? Creio que não!

Não sou contra a escola e nem contra o apoio tão importante dos avós, amigos e outras influências sobre nossas crianças. Aliás, precisamos muito disto, tanto pra nossa saúde mental e física quanto para o bem de nossos próprios filhos, pois não sabemos tudo e precisamos um da ajuda do outro. Existe, porém, uma grande diferença entre receber apoio e tercerizar a educação de alguém, tornando outros responsáveis por ensiná-los aquilo que cabe a nós. E quando falo de ensinar, não estou falando de sentar em uma mesa por 10 minutos e ler um pedaço de um livro juntos. Nossos filhos aprendem experimentando, vivendo. Se queremos educá-los e influenciá-los, precisamos passar tempo com eles. Precisamos tocá-los, precisamos demonstrar afeto. Em vez de enviá-los a escolinha do lego ou de culinária, temos que sentar com eles, brincar de lego ou fazer um bolo, e ali ensiná-los sobre a vida, sobre serviço, sobre amor.

Você pode estar se perguntando: você está querendo dizer que tenho que parar de trabalhar (ou estudar, ou passear) pra cuidar do meu filho? Sim e não! Vou responder com outra pergunta: Fazendo uma análise da sua vida e de sua família, vocês tem conseguido educar seus filhos? Vocês tem conseguido passar a eles os princípios de amor, fé, perseverança que norteiam suas vidas? Se a resposta for sim, ótimo. Se não, é hora de dar uma parada e repensar. Eu tive que fazer isso. Quando meu primeiro filho nasceu ainda não sabia como as coisas seriam. Não levou muito tempo pra perceber que nas circunstâncias em que vivemos , como imigrantes, sem nenhum familiar por perto, e ainda com meu marido tendo que trabalhar longas horas e dirigindo quase duas horas diariamente, seria impossível educar nossos filhos se eu mantivesse o trabalho que tinha. Foi hora de fazer um balanço, sacrificar algumas coisas e saber que esta é uma estação da vida que estamos vivendo e que não durará para sempre.

Temos que tirar o máximo de proveito destes anos tão preciosos. O ponto não é se trabalho fora ou não, se meu filho vai para a escolinha ou não, ou se tenho uma babá que me ajuda ou se cuido deles sozinhos, mas se tenho assumido a responsabilidade de educá-lo no caminho em que ele deve andar; ou se tenho transferido o cuidado e educação dele para terceiros. E esta resposta só uma reflexão sincera pode nos mostrar.

E vale sempre lembrar que nossas vidas são feitas de estações, cada uma tem suas belezas e dificuldades. Nossos filhos vão crescer e cada dia precisar menos da gente. Se hoje eles precisam do nosso amor, do nosso carinho, do nosso guiar e do nosso tempo, este é o momento que temos para fazê-lo pois “tudo fez formoso em seu tempo”. Eclesiastes 3:11

 

“A graça nos permite retornar; é o tempo que não nos permite. E isto é graça também, que nos impulsiona a viver o hoje que já não estará aqui amanhã.”  Ann Voskamp

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