Alguns anos atrás procurei uma conselheira para conversar sobre algo que estava me incomodando. Uma senhora já de idade, com bastante sabedoria e paciência para ouvir. Depois que falei e falei e falei, ela olhou para mim e gentilmente me disse o que eu precisava fazer. No meu íntimo, eu já esperava aquela resposta, pois sabia que aquele era o caminho para resolver aquela situação, o problema é que eu não queria fazer aquilo. Eu olhei pra ela com cara assustada e disse: “eu não quero fazer isso, eu não vou contactar esta pessoa”. Ela, novamente com voz suave, me disse: “Então você não veio aqui querendo resolver esta situação, você só veio aqui pra botar pra fora, reclamar e desabafar”.

Na hora, fiquei frustrada com aquela senhorinha. Mas enquanto os dias passavam ,as palavras dela ressoavam na minha mente: eu não queria fazer o que era necessário para mudar aquela circunstância, eu só queria alguém pra desabafar, como uma panela-de-pressão que está a ponto de explodir.

Numa outra circunstância, fui confrontada com esta situação novamente. Tenho uma grande amiga que é uma intercessora com quem sempre conto. Liguei para ela para pedir que ela estivesse intercedendo por certa situação. Ela me disse: “vou estar intercedendo sim, mas que tal orarmos juntas por isso? Vou estar te ligando todo dia as 6:00 da manhã pra começarmos o dia orando por isso”. Não sei se ela percebeu, mas minha voz engasgou. “6:00 da manhã?” Será que não poderia ser as 21:00 hrs, assim não preciso acordar de madrugada todo dia? Mais por vergonha de dizer não do que por convicção, aceitei a intimação de minha amiga.

Nossa natureza humana não quer mudança. Nos acomodamos na situação que estamos, reclamamos a respeito dela, mas não queremos tomar as atitudes necessárias para mudá-la. Foi assim desde o começo da história da humanidade. Os Israelitas eram escravos no Egito. Reclamavam e reclamavam da escravidão. Mas quando saíram de lá, passaram a reclamar da nova vida e até desejar voltar pra escravidão. A mente deles estava tão acostumada  a reclamar que saíram da situação que estavam mas a forma de ver as coisas e os velhos hábitos não mudaram.

A oração da serenidade nos diz sobre 2 tipos de circunstâncias:

Concedei-nos Senhor, a Serenidade necessária

Para aceitar as coisas que não podemos modificar

Coragem para modificar aquelas que podemos

E Sabedoria para reconhecer as diferenças.

Passamos por coisas na nossa vida sobre a qual não temos controle nenhum. Diante dessas, precisamos aceitar nossa limitação diante delas, confiar em Deus e buscar o contentamento e a Paz que vem do Senhor.

Agora, muitas vezes estamos em circunstâncias que nossas próprias escolhas nos colocaram. Situações que podem sim ser mudadas com coragem, mudança de mente, mudança de atitude e especialmente das palavras. Se usarmos toda a energia que desperdiçamos em reclamação para mudança, certamente os resultados que obteremos serão totalmente diferentes.

Termino com a história de duas mulheres de idade bem avançada com que convivo. As duas são muito queridas, tem praticamente a mesma idade. Uma delas, olhando humanamente, tem uma situação muito mais difícil que a outra. Ela já esta perto dos 90 anos de idade, todos os filhos moram longe e ela vive sozinha. Ela já passou por várias cirurgias e passa a maioria do tempo sozinha. Mas esta senhora tem uma atitude positiva e não tem o hábito de reclamar ou de se fazer de vítima, pelo contrário. Várias vezes ela me disse como sua avó chegou aos 100 e ela espera viver bem pelo menos mais uma década. Esta senhora acorda cedo, lê seu devovcional,  faz seu trabalho de casa, cozinha pra si mesma e pros cachorros, lê as notícias sobre tudo que está acontecendo no mundo. Nunca ouvi esta senhora reclamando, embora claro que tenha seus defeitos.

A outra senhora, quase da mesma idade, mora junto com uma filha que nunca casou. Tem vários outros filhos que moram na cidade e estão sempre a visitando. Mas ela nunca se conformou de morar na cidade que mora. Seu sonho era morar em outra cidade mas nunca fezas mudanças necessárias para que isso acontecesse. Embora tenha todo o apoio, esta senhora sempre reclama de solidão, de que não é feliz e se vitimiza diante da circunstância. Perdeu a alegria de viver e o ânimo.

Como convivo de perto com as duas, inevitavelmente passei a observar como nossas atitude diante das circunstâncias e não as circunstâncias propriamente ditas podem ditar como vivemos nosso presente e como será nosso futuro.

A Bíblia nos diz que o Senhor não nos deu um Espírito de medo:  “Pois Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio.” 2 Timóteo 1:7

Diante das circunstâncias da vida, que nem sempre são ideais, temos duas escolhas: reclamar por reclamar ou buscar mudança. Reclamar e murmurar ou buscar contentamento para aquilo que está fora do nosso controle.