Estávamos na fila do caixa do supermercado quando um dos meus filhos foi abrir uma garrafinha de água pra tomar e deixou quase metade da água cair no chão.  Uma das funcionárias viu o que aconteceu, foi buscar o papel toalha pra secar o chão, enquanto meu filho exclamou: “ah, não tem problema né mamãe, a titia limpa” (referindo-se a mulher que trabalhava ali). Minha imediata resposta foi: “não filhinho, nós todos vamos limpar.” A funcionária rapidamente chegou com os papéis, cada um pegou um punhado e começamos a secar o chão. Pagamos pelas compras, fomos pro carro e seguimos nosso dia normal.

Sabe, não sou uma mãe que me estressa com os acidentes normais que acontecem com crianças. Dificilmente fico brava se eles deixam algo cair ou quebram alguma coisa quando se trata de um acidente. Mas a resposta do meu filho me deixou um pouco intrigada e logo vi ali a oportunidade pra ensinar-lhe uma lição preciosa: não podemos andar por essa vida com a mentalidade de que o mundo está aí a nossa disposição pra nos servir. Não tem nada de mal em sermos servidos de vezes em quando, mas de forma alguma existe problema em nós sermos os que servem. Não tem problema algum em eles se abaixarem pra secar o chão que eles (ou qualquer outras pessoa) molharam. Não há nada de desmerecedor em limpar o banheiro, tirar o prato da mesa depois de comer, juntar o lixo que alguém deixou jogado em um lugar público!

Porque uma coisa que não quero que meus filhos tenham é aquela mentalidade de que o mundo todo gira ao redor deles, de que eles são super extra especiais e que todos ao seu redor precisam estar a disposição pra arrumar sua bagunça, seja esta bagunça algo simples como uma água que caiu por acidente no supermercado, seja esta bagunça decisões erradas que eles venham a tomar e as consequências delas  . Quero que eles entendam que apesar de amá-los profundamente, e justo por isso, vou servi-los sim, mas que eu e os que estão a sua volta também temos necessidades e que eles podem me servir de vez em quando.  

Diariamente não perco a oportunidade de dizer aos meus filhos quão amados e especiais eles são. Mas também digo a eles que eles não são melhores do que ninguém e nunca devem desvalorizar ou desrespeitar os outros, não importa se este outro é uma professora ou a zeladora.

Diariamente não perco a oportunidade de dizer aos meus filhos quantos talentos e dons eles tem e quão longe eles podem chegar. Estou educando e criando meus filhos pra serem homens de influência nesta sociedade. Estou os educando para que eles usem todo seu potencial e talento. Um deles, inclusive, já quis até ser presidente dos Estados Unidos. E cada vez que ele me diz isso, digo a ele que ele pode sim! Mas lhe digo algo também: quão mais alto o cargo, maior deve ser sua responsabilidade e humildade. E que o presidente dos Estados Unidos, ou do Brasil, ou que um médico, que um advogado nada mais são do que pessoas que tem a possibilidade de servir a muitos. Que não importa o que eles vão fazer, eles devem o fazer para servir.

Sabe, o governo, os hospitais, o congresso, as universidades e infelizmente até nossas igrejas estão cheios demais de pessoas que acham que estão ali para serem servidos. Pessoas que acham que porque tem um microfone, um título ou um diploma  na mão devem ser respeitadas e honradas mais do que os outros. Pessoas que buscam um cargo ou ministério não por convicção ou pra fazer a vida dos outros melhor, mas por motivações extremamente egoístas. Porque querem ter empregados que vão limpando toda sua bagunça, alguém que abra a porta do carro, alguém que o trate como importante e muitas vezes porque querem estar acima da lei. É o famoso “você sabe com quem está falando?” que tantas vezes já foi flagrado pelas câmeras de TV quando um desses que se acham importantes demais se viu confrontado por um “simples mortal”.

Tudo tão diferente daquele que disse: “Vocês sabem que os governantes das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. Não será assim entre vocês. Pelo contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo,e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo;Mateus 20:26,27

Por isso vou seguir ensinando meus filhos que tudo bem a titia do supermercado ajudar a secar a água que caiu, mas que nós também podemos faze-lô! E que eu espero e desejo muito que eles crescam e progridam e sucedam financeiramente e profissionalmente, mas que pra chegar lá, eles vão ter que trabalhar duro primeiro, seja na escola estudando, cortando a grama do vizinho ou servindo mesas no restaurante pra poder ajudar com as despesas da faculdade. E que quando eles alcançarem seus sonhos, que eles nunca esqueçam que aonde eles forem, eles foram colocados ali com um propósito, servir os outros, não importa quem este outro seja (Lucas 10:30). E que é servindo, especialmente aqueles que não podem dar nada em troca, que eles vão encontrar sua verdadeira realização!

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