Eu Escolho Enxergar o que é Bom.
Morando muitos anos nos EUA, é comum as pessoas perguntarem como americanos tratam os imigrantes, como eles realmente são e se já fui vítima de preconceito. Então vou te contar alguns exemplos do que já vivi aqui:
Tento ser bem cuidadosa ao dirigir e seguir as leis de trânsito. Esses dias, no entanto, quando já estava na esquina de casa, parei no sinal de Pare muito rapidamente. Aqui nos EUA não basta dar aquela paradinha, você tem que realmente parar o carro, e esperar alguns segundos. Assim que olhei pro lado, vi o policial ligando seu carro e acendendo a luz atrás de mim. Como estava muito perto de casa, segui até a frente da minha casa e ele parou atrás de mim. Ele me deu uma multa, embora já fazia anos que eu não tenha nada em meu registro. A vizinha veio me perguntar o que aconteceu e ela disse que ele esteve parado o dia inteiro ali observando os carros naquele sinal de PARE, e que nossa outra vizinha também foi parada por ele, mas recebeu apenas uma advertência. Ela, uma americana que é muito querida com toda nossa família, me disse: “Não entendo porque ele não te deu apenas uma advertência, estranho isso”, insinuando que talvez ele estivesse com preconceito. Ele me tratou com respeito e não fez nada fora da lei ou abusou do poder por eu ser imigrante, talvez teria sido mais gracioso comigo se eu não tivesse sotaque de imigrante, mas como saber?
Prefiro dar o benefício da dúvida e acreditar nas boas intenções daquele policial.
Da mesma forma, prefiro lembrar de todas as vezes que fui ajudada, bem tratada, amada neste país. Certamente, se eu eu sair procurando e fuçando em minha memória, vou lembrar de pessoas que foram rudes ou impacientes ou me julgaram sem nem me conhecer. Mas quer saber de uma coisa? Tenho duas escolhas: super valorizar, exaltar, e me amargurar pelo mal ou focar e celebrar o bem. E entre as duas opções, escolho a segunda.
Porque no primeiro dia que cheguei aqui, perdida, sozinha, chorando no aeroporto porque tinha perdido toda minha bagagem, um policial literalmente andou comigo até o orelhão, tirou as moedas de sua carteira e colocou no orelhão, discou o número de minha amiga e ajudou-me a encontrá-la.
Porque quando meu pneu furou no meio da rua e eu era uma jovem solteira que não sabia o que fazer nem pra quem ligar naquele momento, um senhor parou seu carro, trocou o pneu rapidamente e foi embora.
Porque quando eu mal sabia falar inglês, americanos me convidaram pra sua casa, tiveram paciência comigo, mesmo que grande parte do tempo não entendiam o que eu falava.
Porque quando meu primeiro filho foi começar escola e eu não sabia como as coisas funcionavam aqui, ligava quase todo dia pra uma amiga que me guiou durante o processo.
Porque alguém me deu a oportunidade de um primeiro emprego, alguém me ensinou como resolver os problemas no banco e como tirar a carteira de motorista.
Porque muitos me incluíram em suas vidas, suas celebrações de aniversário, de Natal, de alegria e de trsiteza. Porque tantos olharam pra mim e não viram diferenças, nem sotaque, nem uma cultura diferente, mas valorizaram o que eu podia acrescentar, me acolheram, me ensinaram e creio que também aprenderam comigo.
Existe americano grosseiro, preconceituoso, metido? Com certeza! Mas existe americano compassivo, doce, ajudador, amável! Assim como é com brasileiros, indianos, italianos, europeus ou qualquer parte do mundo! Em qualquer lugar que formos, em diferentes circunstâncias da vida, vamos encontrar pessoas que irão nos ajudar, acolher, animar e abençoar. Também vamos encontrar pessoas que vão ser grosseiras e até más. Mas quando escolho super valorizar os que me fizeram mal, estou diminuindo o poder do amor, estou relevando o segundo grupo em detrimento do primeiro.
Pode parecer, mas este post não é pra defender os americanos. Este é apenas um exemplo pra nos levar a refletir sobre que atitude temos tido nas nossas vidas diante das pessoas que encontramos?
Temos valorizado mais aquelas que nos maltratam, sempre reclamando do ser humano e de fulano e cicrano que nunca nos ajudou ou que isso e aquilo? Ou temos nos lembrado e valorizado aqueles que nos ajudaram, que estenderam a mão, que foram canal de benção?
A Bíblia diz que devemos trazer à memória aquilo que nos traz esperança. Quantas pessoas que você já encontrou que, contando sobre um momento difícil de luto ou doença ou dificuldade financeira, dizem: “Passei por tudo isso e ninguém nunca me ajudou, tal e tal pessoa fizeram isso e isso e aquilo”, cheias de rancor e amargura? Mas será que essa pessoa nunca recebeu nenhuma ajuda mesmo? Será que ninguém nunca disse algo animador, nunca estendeu uma mão? Ou esta pessoa está tendo uma percepção errada , de exaltar o mal que foi feito a ela e esquecendo-se daqueles que sim, fizeram bem?
Em minha vida, fiz a escolha de me lembrar e valorizar e guardar como precioso em meu coração o bem que me fizeram, e perdoar e esquecer o mal.
Nos projetos que tenho, sou grata por aqueles que os abraçaram, que me ajudaram, que me animaram. Certamente pessoas já criticaram sem causa, ou julgaram sem conhecer, mas honestamente, quando algo assim vem à minha atenção, prefiro fazer como um sábio homem que viveu muitos anos atrás, chamado Neemias. Neemias tinha recebido liberação do rei para reconstruir uma cidade que estava em ruínas. Ele tinha um projeto enorme pra realizar e obviamente não demorou muito pros desanimadores começarem a colocar obstáculos. Enquanto reconstruía o muro da cidade, aconteceu a seguinte situação:
“Quando Sambalate, Tobias, Gesém e o restante de nossos inimigos souberam que eu havia reconstruído o muro e que não havia ficado nenhuma brecha, embora até então eu ainda não tivesse colocado as portas nos seus lugares,
Sambalate e Gesém mandaram-me a seguinte mensagem: “Venha, vamos nos encontrar num dos povoados da planície de O14no”. Eles, contudo, estavam tramando fazer-me mal;
por isso enviei-lhes mensageiros com esta resposta: ‘Estou executando um grande projeto e não posso descer. Por que parar a obra para ir encontrar-me com vocês?’
Eles me mandaram quatro vezes a mesma mensagem, e em todas elas dei-lhes a mesma resposta.”
Neemias estava tão focado no que realmente importava, em realizar seu projeto, que não tinha tempo para perder focando nos que estavam intentando mal.
Essa é a atitude que quero ter: de gratidão, de me lembrar e ser grato aqueles que fizeram o bem, de exaltar as coisas boas em vez das coisas ruins. Quero trazer à memória aquilo que me traz esperança!