Brincar é Coisa Séria!
Há poucos dias tivemos uma reunião semestral com a professora do Josh. Nesta reunião os professores apresentam um relato de como a criança evoluiu nos últimos seis meses. Chegando na reunião, a professora passou por uma lista de aptidões e classificações que eles dão às criancas. No final, com uma cara de espanto, nos disse: “Eu não consigo acreditar que seu filho começou escola só agora, ele está superando todas as expectativas!” Bem, meu filho tem 5 anos, e pra mim não parece o fim do mundo uma criança esperar até cinco anos de idade pra começar escola.
A surpresa da professora não foi novidade para mim. Durante esses primeiros anos com meus filhos, este assunto tem sido meu calo no sapato. Quantas e quantas vezes as pessoas ficaram abismadas porque ele não estava indo pra uma escolinha aos 4 anos. Ouvia sempre a mesma coisa: mas ele precisa aprender! Concordo plenamente que eles precisam aprender, mas quem disse que eles precisam tão novinhos estar dentro de uma sala de aula pra aprender? Lembro claramente a primeira reunião que tivemos quando fui matriculá-lo. A professora bem preocupada porque achava que iria ter um “aluno problema” em sua sala, afinal uma crianca com 5 anos que nunca foi pra escola e ainda vem de uma familia que é bilingue vai ficar perdido, certo?
Embora pareça, não estou usando este espaço do blog pra desabafar e nem pra me gabar do meu filho. A reflexao que quero levantar é que me parece que nossas crianças estão sendo forçadas a assumir uma posição de adultinhos muito cedo na vida. Com medo de que eles fiquem para trás, enchemos a vidinha deles de compromissos e metas. A criança precisa ir pra escola, precisa saber ler com 3 anos de idade, precisa se destacar em um esporte, fazer ballet e aula de francês porque queremos que eles tenham um futuro brilhante. A intenção até que é boa, mas esquecemos de algo super importante: nos primeiros anos de vida de uma criança, a forma mais efetiva de ela aprender é através das brincadeiras. Isso mesmo: uma criança não precisa ir à escola e decorar como uma planta cresce; e muito mais efetivo ela mesma ter a oportunidade de sujar suas mãozinhas de terra e plantar uma florzinha.
Na verdade, brincar é tão importante para o desenvolvimento da criança que foi reconhecido oficialmente pelo Conselho Mundial de Direitos Humanos como um direito de toda criança. Isso mesmo: pela lei, assim como a criança tem (ou deveria ter) direito a saúde, educação, entre outros, também tem o direito de brincar.
A revista Live Science fez um artigo super interessante sobre brincar. Diz assim: “Não subestime o valor de uma criança brincar. Pode parecer tempo perdido, mas quando as crianças estão brincando de casinha, lutando contra dragões imaginários ou brincando de amarelinha, elas estão desenvolvendo características cruciais à vida em sociedade – e preparando o cérebro para os desafios de vida adulta”.
Infelizmente, no entanto, a vida corrida dos pais, a pressão da sociedade para que nossos filhos tenham suas agendas cheias de atividades, os video games e a televisão (que não se encaixam na categoria de brincadeiras ativas) tem diminuido bruscamente o tempo livre das crianças. Nossas crianças estão correndo entre uma e outra atividade, e dificilmente tem tempo ocioso para exercer a imaginação e criatividade, e simplesmente aproveitar a alegria de ser criança.
O assunto é tão preocupante que a academia americana de pediatria fez um documento para pediatras de todo o país explicando da importância da brincadeira na vida das crianças para que os médicos, após lerem, possam alertar os pais. Nas próprias palavras da academia: “Brincar permite que a criança use a criatividade para desenvolver imaginação, coordenação motora e fortalecimento emocional. Brincar é importante para o desenvolvimento cerebral da criança. É através da brincadeira que a criança pequena interage com o mundo ao redor dela. Brincar permite que a criança explore um mundo que eles podem entender, vencendo os medos e ansiedades enquanto se preparam para funções adultas, às vezes em conjunto com outras crianças ou com adultos. Brincar permite que a criança aprenda a trabalhar em grupos, a dividir, negociar, resolver conflitos, tomar decisões, controlar o ritmo das coisas e descobrir suas próprias areas de interesse.
Não tem nada de errado com a escolinha, aula de balé, futebol e inglês. O problema é que quando a maioria do tempo dos nossos filhos é direcionado a esses meios formais de ensino, sobra pouquíssimo tempo para brincar. Enquanto eles estão nesses ambientes, eles estão aprendendo de uma forma passiva, ou seja, alguém esta comunicando uma informação e eles estão absorvendo, seguindo as orientações que foram dadas.
Já quando nossos filhos tem o prazer e a alegria de simplesmente brincar, eles estão aprendendo de uma forma ativa. Ou seja, estão usando a imaginação e criatividade para do nada criar alguma coisa, de acordo com a doutora Susan Linn, professora de psiquiatria na Harvard Medical School.
Segundo o autor e professor Raymond S. Moore, os pais devem questionar a ênfase que a vida contemporânea dá aos equipamentos e tecnologias no processo de aprendizado de uma criança. Para ele, um amontoado de brinquedos pode ser mais estressante do que satisfatório para uma criança. Por outro lado, situações naturais, com oportunidades para se explorar, dificilmente estimulam negativamente uma criança ou a deixam confusa. A maioria das crianças demonstra maior satisfação nas coisas que elas mesmas criam com os pais do que nos brinquedos caros e materiais elaborados. Ainda segundo ele, não existe substituto para a solicitude – seja brincando na areia, se sujando na lama, ou no parque – ali a criança pode criar suas próprias fantasias. Infelizmente este privilégio é muitas vezes negado pela nossa ansiedade de institucionalizar nossos filhos, diz ele.
Nenhum destes dados te convenceu da importância de brincar, de apenas gastar tempo sendo criança? Olhe para os olhos e sorriso do teu filhinho quando ele estiver brincando de ser pirata e procurando pelo tesouro embaixo da sua cama! Ouça as risadinhas, a alegria e o contentamento! Não tem preço!
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