Ah, como eu queria que alguém tivesse me dito sobre esse turbilhão de sentimentos!
Daqui a alguns dias completam-se 12 anos que cheguei nos Estados Unidos. Apesar de todo este tempo, não me esqueço do primeiro dia, a chegada no aeroporto e o turbilhão de sentimentos experimentados ali. Alguns dias antes da minha chegada, falei com uma amiga que já morava aqui e ela me disse muito tranquilamente: “vamos tentar te buscar no aeroporto, mas se a gente estiver trabalhando e não der pra ir você pode pegar o Marta. Não quis dizer nada, mas fiquei assustada. Era a primeira vez que viajava sozinha e a idéia de ter que pegar um metrô em uma cidade de cinco de milhões de habitantes na qual eu nunca havia estado me tirou o sono. Assim que desci do avião caiu a ficha da grande mudança que enfrentaria: acostumada a morar com meus pais, agora estava em um país estranho sozinha, tentando me expressar em um idioma que eu achava que sabia (até descobrir que o inglês falado aqui é bem diferente do inglês que aprendi nas escolas de idiomas) e totalmente perdida. Pisei pra fora do avião e simplesmente não soube pra onde ir. A mistura da ansiedade com o desconhecido me deixou travada. Perguntei a uma aeromoça aonde deveria retirar as bagagens e ela, percebendo quão perdida e nervosa estava, pediu que a seguisse. Andamos uma boa distância e entramos em um trem, e eu tentando explicar pra ela que eu não queria ir embora do aeroporto pois precisava pegar minhas bagagens. E ela me dizendo que sabia mas o tal do trem não parava. Depois de alguns longos minutos, desci do trem e estava no departamento de retirar bagagens. O aeroporto tem um trem que te leva de um terminal pro outro e eu não fazia a mínima idéia. Lá fui eu pegar minhas bagagens e adivinha? Não estavam na esteira. Tive que ir em uma sala especial procurar por bagagens perdidas. A esta altura já chorava de frustração e ficava me perguntando por que tinha saído do Brasil. Depois de um processo pra achar as bagagens, não conseguia encontrar minha amiga e ficava imaginando se ela estaria me esperando na estação de metrô, o tal do Marta, local que eu não tinha a mínima idéia de como chegar. Um policial me viu perdida e perguntou se estava tudo bem. Lhe disse o que aconteceu, ele me levou até um orelhão, usou suas próprias moedas e ligou pra minha amiga, que já estava me esperando no aeroporto. Que alívio quando a vi. Pensei que meu problemas já estavam resolvidos mas na verdade a aventura do aeroporto foi apenas o começo de uma longa jornada de adaptação à nova vida. Depois veio a comida, que de começo detestei, por ser muito apimentada e processada; o entender o sotaque do americano, o aprender as diferenças culturais e tantas outras coisas. Curti muito tudo, mas também chorei bastante. Me sentia em êxtase com cada nova descoberta e conquista, mas me sentia frustrada com certas dificuldades.
Fico aqui pensando como o nascimento do meu primeiro filho se assemellhou a esta experiência que descrevi acima. Caí de paraquedas em um novo país, um novo mundo. Nem todos os livros que li, nem todas as conversas que tive me prepararam para esta experiência que só se aprende vivendo. E este novo mundo não é novo somente para nós, mas também para nossos bebês e maridos.
Tudo começa no momento do parto. Aquele local de aconchego que o bebê conheceu por 9 meses é deixado pra trás e a chegada tão linda mas também turbulenta num “país” totalmente diferente do que ele estava habituado. A comida já não vem através do cordão umbilical, e a partir de agora ele precisa aprender a sugar pra poder mamar. O sistema digestivo precisa aprender como digerir a comida, e as vezes as coisas não funcionam como deveriam, causando gases e cólicas. Dormir é um processo todo novo e o bebê precisa aprender a se adaptar a rotina da casa. Temos a expectativa que já no primeiros dias eles entenderão que a noite é pra dormir e o dia pra ficar acordado. E sempre aparece alguém pra dizer que “o meu filho dormiu a noite inteirinha desde o hospital.” A única forma do bebê se comunicar é através do choro, que às vezes nos deixa irritadas e frustradas, pois achamos que somos culpadas por estarmos fazendo algo errado. Pra ajudar, vem a mídia, os milhares de livros nos dizendo sobre o método perfeito que funciona com toda criança. E de repente, o método que funciona com toda criança não funciona com o nosso.
E ninguém nos conta que leva tempo! Leva tempo pra gente se adaptar a esta nova vida. Leva tempo pros nossos bebês se adaptarem a este novo mundo. Não, não tem nada de errado com você porque você se sente cansada ou chora sem motivo. Por alguns minutos você pode até sentir saudade da tua outra vida, aquela sem bebê e sem choro e sem horários. É cansativo e desgastante, eu sei bem disso! Mas respire fundo, tenha paciência consigo mesma e com seu bebê, que tudo vai passar. Os choros, as cólicas, a dificuldade pra dormir irão embora num piscar de olhos.
Doze anos se passaram desde que cheguei neste país. O turbilhão de emoções dos primeiros dias e meses me diziam que as coisas nunca iriam dar certo. Que tudo era difícil e complicado demais! Pare, respire, olhe. Siga seus instintos de mãe. Seja graciosa consigo mesma e com seu bebê. Ninguém nasce sabendo e uma mamãe também nasceu no dia que seu filho veio ao mundo. Vocês dois estão aprendendo. Toma tempo. Respire fundo, ofereça misericórida a você mesma e a seu bebê. Esqueça do relogio e da lista de afazeres. Diminua o ritmo por você e pelo seu bebê. Diga não ao perfeccionismo, diga não à casa sempre arrumada e se for necessário, diga não a alguns compromissos e a outras pessoas. Diga sim pra você e seu bebê. Diga sim pro aprendizado, que não vem de um minuto pro outro e nem atavés da última técnica revolucionária. É bom conhecer a experiência de outras mães, mas uma mãe se forma no dia a dia, no relacionamento, no errar e acertar, no chorar e sorrir. A intensidade dos primeiros dias não durarão para sempre. Em um piscar de olhos, seu bebê vai estar dormindo a noite inteira, vai estar comendo bem, vai estar falando as primeiras palavras e dando os primeiros passos. Logo você o estará o levando à escola, para a universidade e pro altar.
Doze anos se passaram e esta terra já não é uma terra estranha para mim. Hoje esta é a minha terra, juntamente com o Brasil. Já não sou uma mocinha inexperiente perdida no aeroporto. Hoje posso ajudar os que chegam, dizer que o começo é mesmo difícil mas que dias melhores virão. Olho pra trás e vejo que cada experiência, as positivas e as negativas, me fizeram mais fortes.
Daqui uns dias, poucos dias, a maternidade já não será terra estranha para você. Você olhará pra trás e verá que cada momento construiu quem você é hoje. Que cada experiência vivida serviu pra fortalecer este laço inseparável do amor materno. Que os sorrisos, que as brincadeiras engraçadinhas, que o olhar de felicidade quando te vê, que os passinhos tortos de quem está aprendendo a caminhar, que as primeiras músicas cantadas juntas, que a descoberta de um novo mundo, que tudo isso é imensamente maior do que as dificuldades. E daqui uns dias, poucos dias, você vai estar do outro lado da janela, dizendo para as mamães que nascem a cada dia: eu estive lá, não foi sempre fácil, mas valeu a pena. Eu sei o que são noites mal dormidas e sei o que é perder o controle e gritar algumas vezes. Eu sei quão sem graça você fica quando seu filho dá birra no supermercado ou na festinha de um amigo. Mas também sei que não existe amor como este, que as memórias que você está construindo vão durar para sempre, que um dia você vai sentir saudades das mãozinhas pequeninas lambuzadas de comida. Um dia você vai dizer: Eu estive aonde você está e posso dizer que tudo vai ficar bem!
“Como um pastor cuida do seu rebanho,assim o Senhor cuidará do seu povo;ele juntará os carneirinhos, e os carregará no colo,e guiará com carinho as ovelhas que tem cria.” Isaías 40:11
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