A corrupção começa em casa
Uma das minhas primeiras experiências vivendo nos Estados Unidos não foi nada agradável! Precisava tirar minha carteira de motorista e um amigo iria me levar ao orgão do governo responsável. Ele, que já mora aqui faz muito tempo, me explicou que existiam duas formas que o governo aceitava. Eu poderia entregar minha carteira de motorista do Brasil e receber a americana na mesma hora ou então manter minha carteira do Brasil mas assim receberia primeiro uma licença temporária e depois teria que voltar lá para fazer um teste e receber a definitiva. Ouvi meu amigo mas não disse nada.
Sou um pouco teimosa e adepta do jeitinho. Chegando lá, dito e feito. O atendente logo de cara me perguntou qual das opções eu gostaria de fazer. Mas eu não estava satisfeita com nenhuma das opções. Não queria entregar minha carteira do Brasil pois pensava em retornar em breve e tão pouco queria ter que voltar ali para trocar a licença temporária pela definitiva. O que fiz? Inventei uma história (isso mesmo, não me olhe com esta cara de que você nunca fez isso). Disse que tinha minha carteira mas que ela não estava comigo então queria que ele me desse a definitiva. O homem, percebendo que eu estava enrolando, não me deu nem chance de falar. Me disse que fosse embora, achasse minha carteira e então voltasse, visivelmente irritado por eu estar enrolando. Meu amigo ficou bravo comigo mas acabou me levando em outro local de atendimento e ali segui seus conselhos, falei a verdade e consegui minha carteira. Comecei a perceber que o meu jeitinho pra resolver as coisas nem sempre funcionava e que tão pouco seria condizente com uma cristã.
Alguns anos se passaram e casei com um brasileiro descendente de alemão. Pensa numa pessoa que gosta de fazer tudo certinho de acordo com o manual. Este é meu marido. E pra “piorar” pro meu lado, meu filho mais velho é a cópia dele. Um dia fui almoçar com meu filho na escola e não sabia que eles tinham que entrar por uma determinada porta do refeitório e sair por outra. Quando ele viu que estávamos entrando pela porta errada, ficou morrendo de medo que a professora chamasse nossa atenção e até chorou. Em outra ocasião, meu marido quase teve um ataque do coração quando o convenci de levar um sofá que iríamos doar pra um brechó pendurado em cima do carro. No final percebeu que minha idéia maluca deu certo e demos boas risadas. Em meio a tudo isso, com ele tenho aprendido que algumas coisas que chamamos de jeitinho, jogo de cintura ou esperteza na verdade são mentira, corrupção e tirar vantagem dos outros. Não me entenda mal! Acho super legal o nosso jeito de transformar limão em limonada, em tirar de letra situações difícies da vida e ter uma criatividade tremenda. Amo pedir um desconto e economizar um dinheiro, como no caso do sofá que carregamos pendurado no carro, pra não precisar chamar alguém pra levar. Mas quando nossa esperteza ou jeitinho torna-se tirar vantagem dos outros ou de uma empresa, será que é apenas um jeitinho mesmo ou é desonestidade?
Estava lembrando de uma história real (não vou citar o nome da pessoa). A pessoa estava dizendo que seus familiares são muito críticos com relação aos outros. Criticam todo mundo, brigam por causa de políticos e chamam todo mundo de corrupto. Mas para ela, isto sempre trouxe um pouco de tristeza, pois seus pais sempre foram corruptos dentro de casa. Ela contou de situações que lembra desde quando era criança. Seu pais colocaram tv a cabo roubada do vizinho dentro de casa, sempre fizeram notas falsas de despesas para empresa aonde trabalhavam. Quando síndico do condomínio, o pai mentia nos gastos pra tirar uns troquinhos extras que ele dizia ser justo por todo o trabalho que ele tinha naquela posição. Ela lembra que várias vezes teve que mentir a idade pra entrar de graça no teatro ou parque de diversões e que se sentia super mal fazendo aquilo, mas eles mandavam ela fazer. Disse que quando foi à loja com sua mãe comprar cadernos, a mãe mandou que segurasse o caderno junto ao corpo pra fingir que já era dela, e passar desapercebido pela caixa da loja.
Estávamos conversando sobre a importância dos atos dos pais condizerem com suas palavras, e estas eram as lembranças dela.
Se formos olhar para o que a Bíblia diz, vemos que o maior mandamento que podemos ensinar aos nossos filhos é amar a Deus e ao próximo. Mas se os ensinamos isto e nossas atitudes não condizem com o que dizemos, de que valem nossas palavras?
Esta é uma lição que eu mesma tenho aprendido e muitas vezes ainda escorrego nela. Gosto de conseguir descontos e não vejo nada de errado nisto. Mas se mais do que pedir descontos, estiver pagando o mínimo possível para a diarista que trabalha para mim só porque ela precisa do trabalho e não pode recusar, desvalorizando o serviço dela, será isso amor ao próximo? Lembro-me que nos meus anos de adolescência tinha uma amiga muito querida que passava me buscar pra ir à igreja com ela.Todas as vezes deixava pra começar a me arrumar quando ela me ligava que já estava saindo de casa e assim fazia ela esperar por 30, 40 minutos no carro. Olhando pra trás, vejo como fui desrespeitosa considerando que o tempo dela não era importante e precioso quanto o meu.
Não estou aqui falando de perfeição. A Bíblia mesmo nos diz que aquele que diz que não peca já está mentindo (1 João 1:8), pois todos cometemos erros e estamos sucetíveis a situações que fogem do nosso controle. Estou falando da mentalidade errônea que temos de sempre tirar vantagem, considerando o próximo menos importante ou valioso do que nós. Quantas vezes vou a um parque ou local no qual o estacionamento é pago pelo próprio motorista que deposita o dinheiro dentro de uma caixinha, sem fiscalização nenhuma. Normalmente não tenho problema em pagar, mas se vou ficar só 10 minutinhos, não seria problema, seria? Aí me lembro que aquele que pode ser confiado no pouco também será dado o muito (lucas 6:10) e que, se eu quiser experimentar a boa, perfeita e agradável vontade de Deus, já não devo me amoldar aos padrões deste mundo de tirar vantagem em tudo e sim renovar a minha mente, respeitando aquilo que não me pertence. E que meus filhos estão com os olhinhos e ouvidinhos bem abertos observando tudo que faço!
Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Romanos 12:2
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