Mitos e verdades sobre uma dona-de-casa
Faz mais de seis anos que parei de trabalhar! Nunca, em meus melhores (ou piores) sonhos imaginei que um dia seria dona-de-casa. Como seria uma dona-de-casa se sou o tipo que não gosta de ficar em casa? Bem, o destino tem suas surpresas e aqui estou eu com o título que nunca almejei. Compartilho com vocês o que aprendi nesses seis anos:
Não é tão fácil como alguns acham e nem tão terrível como outros pensam: quando você fala que é dona-de-casa, normalmente a percepção das pessoas passa por dois extremos: alguns acham que você é rica, pois não precisa trabalhar, e fica o dia inteiro fazendo compras, fuçando no face, no spa ou alguma outra futilidade qualquer. Já outros acham que você é uma pobre coitada que não conseguiu nada melhor então passa o dia esquentando a barriga no fogão e esfriando no tanque. Deixe-me dizer que estas duas posições são bem esteriotipadas. Não é nada fácil cuidar de um lar mas também não somos coitadas sem opção.
Ainda tenho cérebro (que funciona): Já aconteceu comigo: estou tendo uma conversa interessante sobre política, cultura ou algo assim com alguém até o momento em que a pessoa pergunta: “E você, o que faz?” Assim que respondo dona-de-casa, aquele olhar inevitável surge no rosto da pessoa: “Ah!!!”, e o tom e assunto da conversa mudam. Quer dizer então que porque escolhi cuidar da minha família já não tenho mais capacidade de pensar, raciocinar e ter opinião própria?
Continuo sendo mulher: Alguns pensam que porque sou dona-de-casa já não sou mais mulher, que já não gosto de me arrumar, que não me interesso por maquiagem e que não posso ser atraente para meu esposo. Errado! Embora seja verdade que alguns dias não dá tempo nem vontade de tirar o pijama, continuo sim me interessando por “coisas de mulher” e gosto de me sentir bem. Gosto de comprar roupas novas de vez em quando, me interesso por coisas bonitas e não gosto de ganhar panela-de-pressão de presente de aniversário.
Sou produtiva: Vivemos em uma sociedade que acredita que se você não é parte do mercado tradicional de trabalho você é um ser improdutivo, uma segunda classe de cidadão. Errado de novo! Primeiro porque o trabalho que estou fazendo é de suma importância. Estou educando meus filhos e cuidando da minha família. Segundo porque ser dona-de-casa não me impede de me realizar como cidadã e usar meus dons e talentos. Algumas mulheres servem a comunidade em igrejas, outras em ongs, outras fazem trabalho artesanal ou vendem produtos. O fato de ter escolhido ficar em casa não me impede de usar meus dons e talentos para benefício da comunidade onde vivo.
Exige sacrifícos: Esses dias fui jantar fora com algumas amigas. Conversa vai conversa vem, uma das mulheres presentes diz: “quem dera eu pudesse ficar em casa como você. Levante as mãos pro céu e agradeça que você pode ficar em casa só cuidando dos filhos e o teu marido trabalha sozinho”. Não foi a primeira vez nem será a última vez que ouvi esta frase (e o mais engraçado que esta frase sempre vem de mulheres que tem um padrão de vida bem mais elevado do que o meu) mas como das outras vezes simplesmente dei um sorriso e fiquei quieta, pois não sinto a necessidade de me justificar. Mas já que hoje estou escrevendo sobre este assunto, deixe-me fazer algumas considerações: Sou sim abençoada de poder ficar em casa cuidando de minha família e entendo que muitas mulheres não tem esta opção. Por outro lado, quando decidi parar de trabalhar sabia que haveriam muitos sacrifícios (especialmente financeiros) a serem feitos pelo prazer e honra de cuidar dos meus filhos pessoalmente. Conheço muitas mulheres que adorariam ficar em casa e não podem; também conheço outras cujos maridos ganham muito bem e preferem trabalhar pra poder ter o dinheiro extra. O ponto é que ficar em casa ou sair trabalhar são escolhas que geram alegrias e sacrifícios. Não sou dona-de-casa porque “meu marido pode” mas porque resolvemos ajustar nossa vida crendo que isto seria o melhor pra nossa família.
Tenho uma vida social: Como disse no começo sou uma dona-de-casa que não gosta de ficar em casa. Uma das coisas que mais me assustava quando considerava parar de trabalhar era viver isolada do mundo. Quão grande surpresa foi perceber que tenho uma vida social mais agitada hoje do que antes de ter filhos. A solidão que senti no início me levou a perceber que existem outras mulheres na mesma situação que eu e que basta iniciar uma conversa para que novas amizades e oportunidades se abrissem.
É algo que faço por mim mesma e não pelo meus filhos: Uma coisa que sempre tive bem claro em minha mente é que nunca iria cobrar meu marido ou meus filhos pelos anos que decidi dedicar a eles. Pra mim, não existe nada mais chato do que ouvir a cobrança de alguém dizendo “eu fiz tudo por fulano e ele nunca reconheceu”. Creio que quando decidimos nos dedicar em amor a alguem, devemos fazer porque queremos e porque cremos que estamos fazendo uma boa escolha. Fazer algo por alguém e passar o resto da vida esperando algo em troca só gera frustração e decepção. Claro que gostaria de ver meus filhos crescendo e se tornando homens honrados, me amando e respeitando no futuro, mas não faço tudo o que faço por eles esperando por um pagamento ou uma retribuição. Faço porque os amo, porque curto muito cada dia que temos juntos, lendo, cozinhando, indo aos parques e museus. Faço porque sei que estes dias preciosos da infância passarão em um piscar de olhos, faço porque sei que eles são herança preciosa que Deus me deu! Faço porque escolhi fazer e não porque fui coagida. Faço por amor e não por obrigação!
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