Tem coisas que dizemos da boca pra fora, num momento de estresse ou cansaço, mas sabemos que aquilo que estamos dizendo são palavras vazias, palavras sem fundamento, apenas uma maneira de extrapolar, botar pra fora. O problema é que a pessoas que ouvem essas palavras, especialmente crianças, não tem o entendimento  e discernimento para entender que estamos apenas nervosas ou extrapolando. No coração e mente delas, essas palavras geram confusão, dúvida e insegurança. Trabalhando como voluntária em igreja e ministério por tantos anos, já conversei com tantas mulheres e adolescentes que sentiam-se inseguras do amor dos pais por coisas tão “bobas” do ponto de vista dos pais. Mas para quem ouviu essas palavras, elas não parecem bobas ou sem significado, ao contrário. Caíram como espada que machuca a alma. Então aqui vai a lista de 3 frases que como mãe, muitas vezes temos o costume de dizer da boca pra fora, mas que para nossos filhos pode gerar uma insegurança tremenda.

“Um dia eu vou sumir, desaparecer, daí vocês vão sentir minha falta” – O que me levou a escrever este texto foi uma conversa que tive com uma mulher já adulta. Ela estava me contando que frequentemente, ouvia sua mãe dizendo que ia sumir, desaparecer, sempre que a mãe ficava frustrada com alguma atitude dos filhos ou sentia-se sobrecarregada com o trabalho de casa e os filhos. Esta mulher me contou que um dia, com raiva, a mãe disse isso e saiu de casa por algumas horas, deixando os pré-adolescentes sozinhos. Eles já não tinham o pai, e ficaram super magoados quando a mãe voltou depois de horas. A mãe contou pra vizinha a história, dizendo que quando chegou em casa viu os filhos com os olhos arregalados e cara de assustados, e  achou engraçado. Os filhos, ouvindo a mãe contar a história para a vizinha como se fosse algo engraçado, ficaram ainda mais chateados. Ficar ameaçando, dizendo que vai sumir, que o dia que eu morrer vocês irão me dar valor, ou que o dia que eu desaparecer aí vocês vão ver, não resolve as dificuldades e gera nos filhos um sentimento de insegurança, instabilidade e medo.

“Eu não aguento mais” – Como mãe, temos momentos de sobrecarga e cansaço. Várias vezes, descontamos em nossos filhos a frustração com outras coisas da vida que nem são culpa deles. Nos estressamos com a criança que derrubou o suco quando na verdade, derrubar um suco é parte normal do crescimento e aprendizado da criança. O problema não é o suco derramado. Muitas vezes o problema é no nosso trabalho, ou no relacionamento com o marido, ou em termos assumido mais coisas do que poderíamos. Aí quando o filho derruba um suco, ou pede ajuda com a tarefa, explodimos com eles. Não podemos gritar com nosso chefe e dizer que já não aguentamos mais, mas nossos filhos são crianças, estão debaixo do nosso teto e acaba sobrando pra eles o peso do nosso cansaço, da nossa frustração. Lá no fundo, até sabemos que fomos injustas e que extrapolamos a raiva ou cansaço encima da pessoa errada, mas  é difícil controlar a ira. O problema com esta frase, o “eu não aguento mais”, é que nosso filhos passam a entender e acreditar que eles são um peso demasiado pesado para os pais. Eles não vêem a si mesmos como motivo de alegria, mas como um peso, como um fardo que causa a infelicidade e o cansaço dos pais. Quantas e quantas pessoas já conversei que sempre sentiram-se responsáveis pela infelicidade ou frustração dos pais! Quantas vezes eu mesma descontei nos meus próprios filhos frustração com algo, simplesmente porque eles estavam no lugar errado na hora errada? Lembro-me de um dia que fiquei tão frustrada e brava com meu filho porque ele não conseguia entender a lição de matemática. Esbravejei dizendo que ele não tinha prestado atenção na aula e que se ele tivesse se esforçado, teria entendido. Na verdade, estava brava porque tinha um monte de coisas ïmportantes” pra resolver aquele dia e eu mesma estava tendo dificuldade em explicar aquela matéria pra ele. Depois tive que pedir perdão e explicar para ele que o problema não era ele, mas eu.

“Enquanto você morar debaixo do meu teto, da minha casa, você não vai fazer isso ou aquilo” – ah, essa é uma frase clássica das mamães e papais! E enquanto eu entendo e acredito no princípio que está por trás desta frase, creio que precisamos colocá-la de uma forma diferente. O princípio, acredito eu, que está por trás desta frase é que a criança entenda que os pais são autoridades e que a criança, adolescente ou jovem devem sim  respeitar esta autoridade, o que eu concordo 100%. O problema com esta frase, no entanto,é que colocamos a obediência da criança relacionada a estar debaixo do nosso domínio, do nosso teto, e não uma obediência baseada em entender o porque devemos obedecer e o porque certas atitudes não são aceitas dentro do lar. Se esta frase é repetida de forma vazia constantemente, sem ensino e direção atrelada a ela, esta frase gera na criança o desejo de sair, o mais rápido possível, debaixo do autoritarismo dos pais porque a percepção do filho é que a casa dos pais não é a casa dele. Tenho uma conhecida cujo pai sempre disse que debaixo do teto dele ela nunca poderia namorar. Ela, como toda jovem que sonha em conhecer o príncipe encantado, casou com o primeiro sapo que apareceu pra se livrar do autoritarismo do pai. Infelizmente o rapaz era viciado em jogos, ela acabou se divorciando e tendo muitas dificuldades para criar a filha sozinha. 

Em vez de dizer:  “debaixo do meu teto você nunca vai fazer isso”, que tal ter um diálogo com o filho do porque aquilo não é permitido, quais são as consequências daquela atitude e que você, como pai ou mãe, está sim exercendo sua autoridade e não irá permitir aquilo, mas não simplesmente porque  você é o dono da casa e paga as contas e isto basta, mas porque você se importa verdadeiramente com ele ou ela, e você sabe que aquela atitude vai levá-lo a caminhos difíceis?

Autoritarismo e desrespeito são bem diferentes de autoridade. Podemos e devemos exercer nossa autoridade como pais, mas sem humilhar nossos filhos. Crianças não devem ser o canal de escape sobre o qual descontamos toda nossa frustração e raiva.

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