Pense nisso antes de compartilhar videos e memes nas redes sociais.

Fevereiro 15, 2017 at 7:49 pm

Já foi a mãe que colocou seu bebê pra dormir no chão do aeroporto, a velhinha que se confundiu ao fazer cálculo de matemática das pipocas que vendia, a jovem que foi levada pela enxurrada na frente de um restaurante, a adolescente que teve vídeos íntimos compartilhados por milhares, não aguentou a vergonha, se suicidou e muitos outros casos.

Em todos eles, uma semelhança: alguém num momento difícil ou fazendo algo que não consideramos apropriado e do outro lado um estranho com uma câmera na mão pra fotografar ou filmar, postar na internet e em poucos minutos, viralizar.

Cada vez que vejo um desses vídeos “engraçados” sendo circulados, fico me perguntando qual o direito que temos de, porque temos um celular na mão, expormos uma pessoa à vergonha e humilhação sem sequer pedir autorização, saber o que está por detrás da história ou pelo menos, editar e borrar a face da “vítima” para que ela não chegue em casa e seja surpreendida por ver sua cara exposta como chacota na internet.

Você já parou pra pensar que por trás da “terrível” mãe que deitou seu filho no chão do aeroporto tem uma mulher que tem marido, amigos, um trabalho e uma vida social? Ou por trás da jovem que foi secretamente filmada limpando o nariz no ônibus tem alguém que vai a faculdade, sonha em casar e ter uma profissão? Que a  jovem com o rosto cheio de espinha da foto que foi transformada sem autorização num meme machista escrachando com a moça sofreu intensamente porque se sentia envergonhada até pra sair de casa?O que está dentro do coração de alguém que faz questão de filmar uma senhora simples tentando ganhar seu dinheirinho com seus sacos de pipocas errando no cálculo da matemática? Pra que humilhá-la publicamente? Por algumas risadas ou curtidas no face?

Eu já tive dezenas de momentos nos quais fiz coisas que me envergonharia de ver publicadas na internet. Já me vesti com roupas não apropriadas, já fiquei frustrada, discuti e fui grosseira com um vendedor de uma loja por ele não honrar a garantia de um produto, já gritei com meus filhos ou puxei-os pelos braços irritada depois de um longo dia de birras e cansaço. Com a cabeça quente, já disse palavras duras que me arrependi. Mas depois de alguns minutos ou horas, me acalmei, repensei e resolvi. Mas e se, naqueles 5 minutos de cabeça quente, alguém, sem me conhecer e saber quem eu sou, como penso e ajo, tivesse discretamente tirado seu celular do bolso e me filmado nos meus piores momentos, me expondo a vergonha pública? 

Lembro-me de uma história de um sábio que viveu há muito tempo atrás. Uma mulher foi pega em seu pior momento. Humilhada, envergonhada, talvez nua, foi carregada pelas ruas por alguns que queriam expô-la, talvez pra dar uma lição, talvez apenas pra se divertir. Esperavam que aquele mestre fosse o primeiro a “curtir” ou “compartilhar” aquela situação. Mas ele, com seus dedos escrevendo na areia, deletou aquele vídeo e escolheu a compaixão.

O convite que aquele mestre fez continua aberto pra mim e pra você: que atire a primeira pedra (que compartilhe o video de ridicularização) aquele que nunca fez nada da qual se envergonharia!

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Por trás de uma tela de computador, tem uma pessoa, com família, amigos, sentimentos, uma história e sonhos. Nada nos dá o direito de sair expondo os piores momentos de ninguém. Se você realmente precisa usar algo que presenciou como um exemplo ou pra divertir seus amiguinhos, ao menos tenha o cuidado de não expor a face de alguém que você nem sequer conhece. Se o que você presenciou é algo que coloca em risco a vida de alguém, contate as autoridades.

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Todas as histórias que citei acima vi compartilhadas nas redes sociais e são reais. No entanto, para não expor ainda mais as vítimas, só coloquei o link dos casos nos quais a vítima se posicionou contra o cyber bulling e  publiquei aqui o direito de resposta, não o vídeo de ridicularização. 

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