A pior mentira que você pode contar para seus filhos
Lembro claramente de algumas discussões que tive com minha mãe quando era criança, talvez pré-adolescente: Ela sempre insistia para que eu e meu irmão ajudássemos nas tarefas de casa, aprendêssemos a cozinhar, limpar e cuidar das coisas. E eu, cheia de mim, dizia: “não se preocupe, vou ficar bem rica, ter empregada, cozinheira e babá, não preciso saber fazer estas coisas.” Minha mãe respondia: “espero que isso aconteça, mas até pra mandar você precisa saber fazer.” Muitos anos se passaram e eu entrei em uma das escolas mais eficazes que alguém pode ter: mudei para outro país! Sabe tudo aquilo que você era (ou achava que era) no seu país? Esqueça! Aqui você não é ninguém; as pessoas não conhecem tua família nem teu sobrenome; você comete erros bruscos falando em outro idioma; muitas vezes, tudo o que você estudou não vale nada (por causa de leis que regem as profissões) e no começo, por vezes você tem que aceitar os trabalhos mais simples pra ganhar a vida. Várias pessoas, depois de poucos meses, desistem dos seus objetivos! Sabe porque nunca desisti? Porque minha mãe sempre me ensinou que rapadura é doce mas não é mole não; a vida é boa mas temos que arregaçar as mangas e ir a luta. Dentro disto, sabe qual a pior mentira que podemos ensinar para nossos filhos? Que a vida é fácil!
Não me entenda mal! Acho a vida linda, amo a natureza, as pessoas e amizades. Mas a verdade é que as coisas nunca são exatamente do jeito que queremos ou sonhamos, relacionamentos são difíceis, e se quizermos chegar a algum lugar temos que batalhar – e muito.
E esta é uma lição que nossos filhos vão ter que aprender! Lembro-me de quando eu e meu irmão começávamos a brigar ou reclamar muito. Minha mãe, em vez de dar um ipad pra ficarmos quietos, nos dava um saco de lixo e mandava a gente ir catar as folhas da grama. Ou então ligava a mangueira e fazia a gente lavar todas as calçadas da casa. Sinceramente, nunca perdi os dedos ou fiquei doente por trabalhar e ajudar. Pelo contrário, aprendi a dar valor nas coisas, enfrentar obstáculos e lutar pelo que quero, embora destestasse naquele momento. Parece contraditório, mas creio que podemos educar nossos filhos para serem homens e mulheres fortes, batalhadores e guerreiros, e ao mesmo tempo proteger a alma e o coração deles para que sigam sendo pessoas sensíveis, amorosas, sonhadoras e que acreditam na humanidade. Como?
Assumir consequências: Por mais que amamos nossos filhos e não gostamos de vê-los em problemas ou sofrendo, eles tem que aprender a ser responsáveis pelas suas atitudes. Se em vez de estudar para as provas seu filho ficou jogando video game e reprovou de ano, deixe que repita o ano. Nada de dar um jeitinho com o diretor da escola. Gastou mais do que podia? Vai ter que se apertar no próximo mês para não ficar no vermelho. Eu sempre pego livros emprestados na biblioteca para as crianças e um dia desses os meninos rasgaram um. Fui com eles até a biblioteca, mandei que eles pedissem desculpas e dizer que, se fosse necessário, pagariamos o prejuízo.
As coisas não tem que ser sempre do jeito deles: Nossos filhos tem que aprender a ceder. Nem sempre as coisas serão como eles querem. Vai ser assim no trabalho, amizade e casamento, então melhor começar agora. Hoje mesmo fui com meus filhos na festinha de graduação do Josh. Ele estava se divertindo muito, já o Ian não estava curtindo e começou a dar escândalo porque queria ir embora. Disse a ele que era algo importante para o Josh e que iriamos ficar ali mais um pouco, independente dele querer ou não. Já aconteceu o contrário também – situações em que quem teve que ceder foi o Joshua! Outro exemplo são os afazeres de casa. Os meninos tem algumas responsabilidades aqui em casa. Algumas coisas, como repor papel higiêncio no banheiro, eles gostam de fazer, já outros afazeres não. Eles não gostam de guardar os talheres da lava louça, por exemplo. Mesmo reclamando, eles tem que fazer. Sempre explico a eles que a mamãe e o papai também não gostam de fazer certas coisas, mas que isto faz parte da vida, e em qualquer carreira que venham a seguir, haverá coisas prazerosas e outras nem tanto.
Não dê tudo de mão beijada: Uma coisa que acho interessante na cultura americana é como os adolescente tem que trabalhar desde cedo, mesmo quando são ricos. Estes dias estava conversando com uma amiga que tem uma filha que está cursando medicina em uma das melhores universidades dos EUA, a Emory University. Ela e o marido também são médicos, tem uma situação financeira ótima e estão pagando pelos estudos da filha. Mas para comprar os livros e pagar a gasolina do carro, a menina encontrou um trabalho de atendente em um Dunkin Donuts (rede de lanchonete americana) e trabalha preparando os cafés. Claro que os pais poderiam completar o dinheiro que ela precisa, mas ela está aprendendo a dar valor no que ganha e que todo trabalho é digno. Até as criançinhas, quando fazem parte de um time de esportes ou escoteiros, vendem bolachinhas ou lavam o carro das pessoas com o auxílio dos pais para angariar fundos.
Foque no esforço e não no resultado: Pode ser que um 7 em matemática exija um esforço enorme de uma criança, enquanto que pra outra um 7 é resultado de desleixo. Não elogie apenas o resultado final do que seu filho fez, mas observe se ele fez o melhor que pode.
Relacionamentos: Temos que ensinar nossos filhos a se relacionar com outras pessoas, mesmo quando dificuldades aparecem. Nunca deixaria alguém fazer bullying com meu filho ou abusar dele emocionalmente ou fisicamente; mas por outro lado, não podemos super protegê-los de todas as pessoas difíceis que vão cruzar o caminho deles. Não preciso correr desesperada para socorrê-lo por que outra criança pegou o brinquedo dele e tão pouco comprar briga com amigos por causa de briguinha boba de criança. Nem todas as professoras serão as mais doces e amáveis e nem todo mundo vai achar que eles são as crianças mais lindas, queridas e inteligentes do mundo. E isto não é problema!
Hoje, uns 20 anos depois, sendo esposa, mãe de três filhos, sem empregada, nem babá e nem cozinheira, sou grata porque minha mãe me preparou não para um conto-de-fadas, onde tudo gira ao meu redor, mas sim para uma vida real, na qual existem tanto belezas como obstáculos.
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